domingo, 24 de maio de 2009

Paixão pelo idioma e pela França leva brasileiros a estudar em Paris


Escola cobra 400 euros, ou R$ 1.200, para curso de um mês de francês, sem incluir acomodação; diretora de curso diz que brasileiros vêm movidos por 'caso de amor com a cultura francesa'.

Você pediu e nós estamos passeando pelo mundo esta semana, na série sobre intercâmbio. E hoje, vamos falar francês? De Paris, todos os detalhes com os correspondentes Sônia Bridi e Paulo Zero. 

Poucos impérios deixam de ser o centro do mundo e conseguem manter o charme, como a França. Claro, ela continua sendo um dos países mais ricos do mundo, continua influente, mas nada como outrora, quando não se conformava em ditar a moda - mas guiava a filosofia, o pensamento humanista, e qualquer um que fosse alguém no mundo, tinha que saber falar francês. 

O inglês substituiu o francês nos negócios e depois na diplomacia. Se tornou a nova língua universal. Mas isso não significa o ostracismo desse idioma. Ainda que a maioria dos estrangeiros que vem até aqui para estudar o idioma não busque mais do que um mergulho no charme e na cultura. 

Numa escola de francês para estrangeiros no sul de Paris, encontramos um grupo de brasileiros que em comum só tem a vontade de aprender o idioma.

 

Elisa ficou desempregada há pouco tempo, e resolveu gastar as economias se preparando melhor pro mercado de trabalho. 

“Num primeiro momento eu pensei em tirar férias, viajar, para algum lugar, não sabia pra onde. Depois eu falei, não, vou juntar as duas coisas, vou viajar, vou pra um lugar pra conhecer novas culturas, novas pessoas e novos lugares, mas também pra me aperfeiçoar”, diz Elisa Bandeira de Mello, publicitária. 

Elisa está fazendo uma imersão total. Mora na escola, e dedica o dia a estudar, para aproveitar ao máximo a experiência. “Já que vou estar fora do mercado, que está tão competitivo e tão fechado nesse momento de crise, eu precisava fazer alguma coisa, com certeza, pra que eu faça a diferença quando eu voltar”, diz Elisa. 

O uso profissional da língua nem passou pela cabeça da doutora Valéria. "Provavelmente eu vou usar pouco na minha profissão”, diz Valéria Menezes, médica. 

Francês de viagem, para uma viajante apaixonada. “Viajei a primeira vez pra Paris e gostei bastante. Voltei no ano seguinte. Depois de alguns anos, resolvi voltar a estudar alguma coisa que não fosse ligada à minha profissão. E como tinha gostado bastante da França, eu escolhi francês”, diz Valéria. 

Já o professor vai usar tudo, mesmo os passeios, para se aprofundar no que já estuda: a história da arte. “Estar na Europa, estar em Paris, é maravilhosos, no que diz respeito à estética, no que diz respeito à obra de arte. E pra mim, profissionalmente, é muito valioso”, Leandro Bessa, professor. 

A diretora do curso confirma que a maioria dos brasileiros que a escola recebe vem movida apenas por um caso de amor com a cultura francesa, a gastronomia, a arte, a moda. Foi assim que a publicitária Ana Paula chegou aqui - alugou um apartamento e quer viver a vida de um francês por um mês. 

“Foi uma preferência, uma paixão mesmo. Não quero fazer exames, me aperfeiçoar. Só quero ter aquela sensação ótima de chegar num lugar que fala uma língua e se fazer entender, e entender todo mundo. É porque isso é que abre a porta pra você fazer parte da cultura, você falar a língua. Se não, você vai ser sempre um turista, em qualquer lugar”, diz Ana Paula Guerra, publicitária. 

Nada mais francês do que uma manifestação. Ir às ruas, protestar, reivindicar. Impossível circular uns dias em paris, sem cruzar com manifestantes. A de 1º de maio é gigantesca. E observada atentamente por dois brasileiros. O pai participou das grandes passeatas de maio de 68, que contaminaram a juventude do mundo inteiro. A filha carrega a curiosidade, essencial numa grande atriz. Camila Pitanga tirou dois meses de licença, veio estudar francês. 

“Uma coisa é você aprender nos livros uma língua, outra coisa é você estar em contato com os costumes”, diz Camila Pitanga. Um francês interrompe a conversa, em português. Há 30 anos ele fez o caminho inverso, viveu no Brasil. Retribuiu a paixão. “As pessoas normalmente têm curiosidade”, diz Camila.


“É isso mesmo”, diz o francês. “Curiosidade sobre o mundo. E aqui tem essa característica. Todo mundo passa por aqui, seja para se encantar pela cidade, seja para trocar cultura”, diz Camila. 

Nas ruas de Paris, nas salas de espetáculo, Camila aproveitou também as portas abertas da França para as culturas do mundo. “Aprendendo francês eu acho que eu vou ter oportunidade de poder ler literaturas que falem sobre outros países, é como se fosse uma lente para ver outras coisas. Não só a cultura francesa”, diz Camila. 

Num planeta, como dizem os franceses, mundializado, a barreira a ser derrubada é a da comunicação. Uma escola em Paris cobra 400 euros, R$ 1.200, para um curso de um mês, sem incluir a acomodação.

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